Caro leitor do Semanal Carta ao Homem,
A vida é mesmo cheia de surpresas…
Se você é um homem que usa aqueles medicamentos populares para disfunção erétil, pode ter uma surpresa terrível.
Mas antes de falarmos sobre os mistérios ocultos dos medicamentos para disfunção erétil, vamos descobrir o que acontece quando um cientista pesquisa sobre isso de fato.
A atração principal
Você, meu leitor fiel, já deve ter percebido que estou sempre com a pulga atrás da orelha sobre o que é noticiado pela grande mídia.
Quando uma manchete diz, por exemplo, que a Vitamina E não ajuda na saúde do coração e a pesquisa por trás é cheia de falhas, na mesma hora, ligo meu alerta.
Penso com meus botões que, na melhor das hipóteses, essas informações são simplesmente preguiçosas e desleixadas.
E, na pior das hipóteses, manchetes assim podem enganar algumas pessoas e as induzirem a escolhas ruins para a saúde.
Por isso, estou sempre procurando por manchetes fora do padrão. Foi o que aconteceu quando dei de cara com uma chamada da Associated Press (AP): “O que é ‘bom para você’ muitas vezes acaba sendo ruim.”
Logo pensei: Lá vamos nós para mais uma grande balela.
Mas, ao invés disso, encontrei uma notícia muito interessante sobre uma pesquisa conduzida por John P. A. Ioannidis, M.D., da Faculdade de Medicina de Ioannina, na Grécia.
Dr. Loannidis pesquisou mais de uma década de estudos publicados no The Lancet, The New England Journal of Medicine (NEJM) e no Journal of the American Medical Association (JAMA, onde, coincidentemente, o estudo do Dr. Ioannidis foi publicado no início deste mês).
Dr. Ioannidis encontrou aproximadamente 50 estudos clínicos originais que repetiram pesquisas, e foram publicados entre 1990 e 2003.
Quarenta e cinco dos estudos originais concluíram que o tratamento estudado era eficaz.
Porém, nos acompanhamentos, 16% concluíram que os tratamentos eram ineficazes, enquanto outros 16% concluíram que os efeitos do tratamento eram mais fortes do que os estudos originais descobriram ser.
No artigo da AP, os editores observaram como é importante reconhecer que “um único estudo não deve ser a palavra final.”
Mas meu trecho favorito do artigo foi de Catherine DeAngelis; editora da JAMA, que disse à AP que as coisas ficam ainda mais complicadas quando a mídia produz “manchetes enganosas ou exageradas“.
Caso em questão
Para ilustrar o que o Dr. Ioannidis diz sobre a necessidade de mais do que apenas um estudo para descobrir toda a gama de prós e contras de um tratamento, só precisamos olhar para um medicamento que recebeu mais de 100 testes clínicos.
Isso mesmo – é o medicamento contra disfunção erétil que alcançou o status de ícone em menos de uma década: O azulzinho.
De acordo com um artigo do Washington Post, NENHUM desses mais de 100 testes detectou um efeito colateral raro, mas grave da substância: homens que têm diabetes, hipertensão ou colesterol alto podem ter cegueira parcial súbita.
No ano passado, o Journal of Neuro-Ophthalmology produziu um relatório que examinou sete homens, com idades entre 50 e 70 anos, que desenvolveram esse efeito colateral – conhecido como Neuropatia Óptica Isquêmica (NOI) apenas 36 horas depois de tomar o azulzinho.
Em alguns casos, a visão não foi completamente restaurada.
Conto de vigário?
Além disso, o Washington Post revelou que a FDA (agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) recebeu mais de 35 reclamações de usuários do azulzinho que sofreram perda súbita ou permanente de visão em um ou em ambos os olhos.
Já a CBS News afirma que esse número pode ser ainda muito maior: talvez mais de 100 casos.
Como resultado disso, a FDA uma nova bula para o azulzinho e outros medicamentos contra disfunção erétil.
Depois, a seguinte nota apareceu no FDA News Digest: “A FDA orienta aos pacientes que tomam esses medicamentos e que experimentam perda súbita ou diminuição de visão em um ou ambos os olhos para parar de tomar o medicamento e entrar em contato com um médico imediatamente.”
Não tem jeito: se, de repente, tudo ficou escuro ou embaçado, é só ler (ou tentar) a bula que veio junto com o às pílulas – que, é claro, tem letras minúsculas – e tentar ligar para seu médico.
Um médico pode dizer que esses são casos isolados, mas você pode apostar que ele não sabe que um oficial de segurança da FDA informou aos seus superiores do perigo de cegueira há mais de um ano antes do estudo do Journal of Neuro-Ophthalmology ser publicado (de acordo com o Washington Post).
Então, se você conhece algum homem que usa azulzinho, Levitra ou Cialis, avise a eles que quando esses medicamentos são tomados por quem tem diabetes, hipertensão ou colesterol alto, existem grandes chances de cegueira permanente.
Pela sua saúde,
Sou o Dr. Rafael Freitas